Impacto financeiro da estiagem em Palmeira das Missões chega a R$ 327 milhões 6gs4t
24/03/2025 1h4d4x

A seca prolongada tem afetado gravemente a produção agrícola e pecuária de Palmeira das Missões, no Rio Grande do Sul, onde a Prefeitura, em conjunto com o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural (COMDERUR), decretou situação de emergência na quarta-feira, 19 de março, em função do agravamento da estiagem. A decisão foi tomada após uma análise detalhada da situação, que já apresenta perdas significativas para o setor agropecuário. 38385a
Em entrevista exclusiva para a Tribuna da Produção, o prefeito de Palmeira das Missões, Evandro Massing, expressou sua preocupação diante do cenário crítico. “Até 20 dias atrás, ainda estávamos em uma situação relativamente confortável, até em relação ao que se via na região. Tínhamos, inclusive, laudos da Emater que apontavam danos ainda não de grande magnitude, que poderiam ser absorvidos. Mas nos últimos dias, com o agravamento da estiagem, esses danos aumentaram consideravelmente e tendem a continuar crescendo”, diz Massing.
A falta de chuvas tem prejudicado diversas culturas, com destaque para o milho, soja e feijão, que têm sofrido com a ausência de água. “Agora, o enchimento do grão da soja precisa de água e, infelizmente, não temos. Olhamos para o horizonte e, pelos próximos dias, não há previsão de chuvas volumosas que possam resolver esse problema ou, pelo menos, minimizar a situação já criada’, lamentou o prefeito.
O município, que enfrenta perdas expressivas na sua produção agrícola, já se vê forçado a recorrer ao nível 2 do decreto de emergência. Isso permite que o município busque recursos tanto do Estado quanto da União, além de oferecer aos agricultores alternativas para renegociar suas dívidas bancárias, como o alongamento dos prazos de pagamento.
Ações mitigadoras e os desafios do município
Além de buscar apoio financeiro, a Prefeitura já iniciou ações para amenizar os impactos da estiagem, como a distribuição de água para os produtores rurais, especialmente aqueles que cultivam hortaliças. “Estamos realizando ações mitigadoras junto aos nossos agricultores, como a distribuição de água, inclusive para aqueles que produzem hortaliças e enfrentam problemas relacionados à falta de água. Essas são algumas das ações que estamos tomando para minimizar os efeitos da falta de água potável e também para tentar salvar parte da produção, principalmente das oleaginosas”, afirmou o prefeito.
O cenário tem sido desafiador para o município de Palmeira das Missões, que, segundo o próprio prefeito, já lidou com várias crises climáticas no ado. “É um grande desafio, sem dúvida. É algo que percebemos claramente aqui em Palmeira, onde já perdi a conta de quantos decretos de emergência assinei, seja por excesso de chuva ou por falta de chuva. Estamos vivendo essa gangorra climática, que tem prejudicado consideravelmente a produção primária, a qual, querendo ou não, é a principal atividade econômica de Palmeira das Missões”, diz.
Dados da Emater
De acordo com os dados fornecidos pela Emater de Palmeira das Missões, a estiagem tem afetado toda a extensão do município, atingindo as áreas de cultivo de soja, milho e hortaliças, além de prejudicar a produção de leite. Palmeira das Missões cultiva 100 mil hectares de soja, 14.500 hectares de milho e 16 hectares de hortaliças, além de contar com 93 produtores de leite que plantam 1 mil hectares de milho para silagem.
O impacto econômico é profundo. Segundo a Emater, a perda na produção de soja é estimada em 33%, o que corresponde a uma redução de 130 mil toneladas e um prejuízo financeiro de aproximadamente R$ 277 milhões. No milho, a perda é de 28%, com uma redução de 43.503 toneladas, gerando um prejuízo de mais de R$ 50 milhões. As hortaliças também apresentam uma queda de 10% na produção, resultando em perdas de cerca de R$ 32.000.
No total, as perdas no município de Palmeira das Missões somam aproximadamente R$ 335 milhões, considerando a produção agrícola e a silagem para a pecuária.
Confira a tabela abaixo
Cultura |
Área atingida (ha) (a) |
Rendimento inicial (Kg/ha) (b) |
Perda % (c) |
Redução Rendimento Atual (kg;ha) (b-c)=(d) |
Expectativa de Produção |
Preços (sc,t) ** |
Prejuízo financeiro em RS (f*preços) |
|
Produção Inicial (t) (d*a) (1000= (e) |
Redução (t) (e*c0=f |
|||||||
Soja |
100.000 |
4.000,00 |
33% |
1300 |
400.000 |
130.000 |
R$128,00 |
R$ 277.335.552,00 |
Milho Grão |
14.500 |
10.800,00 |
28% |
3000 |
156.600 |
43.503 |
R$ 69,00 |
R$ 50.029.402,23 |
Hortaliças |
16 |
10.000,00 |
10% |
1000 |
160 |
16 |
R$ 2.000,00 |
R$ 32.000,00 |
TOTAL |
114.516 |
|
|
|
|
173.519 |
|
R$ 327.396.954,23 |
A situação da pecuária
A pecuária também sofre com a escassez de água. Cerca de 60 propriedades estão com falta de água para dessedentação animal e 42 propriedades enfrentam problemas semelhantes para o consumo humano. A estiagem também afetou a produção de silagem, com uma perda de 50% na produção, estimando-se uma redução de 20 milhões de quilos de silagem e um prejuízo de R$ 8 milhões.
PECUÁRIA
Animais |
Área (ha) ou (Cabeças) (un) (a) |
Rendimento Inicial (l/d, Kg/há, kg/cab) (b) |
Pendimento total (l/mês, kg)* (c) |
Perda % (d) |
Redução Rendimento Atual (l, kg ou kg/ha) (c*d)=(e) |
Expectativa de Produção |
Preços (sc,t)** |
Prejuízo financeiro em RS (g*preços) |
||
Produção Inicial (t/l) (d*a)/ 1000= (f) |
Redução (l, kg ou t) (f*d) = g |
|||||||||
Milho Silagem (Kg/ha) |
1000 |
40.000 |
40.000.000 |
50% |
20.000.000 |
40.000.000 |
20.000.000 |
R$ 0,040 |
R$ 8.000.000,00 |
|
TOTAL |
|
|
|
|
|
|
|
R$ 8.000.000,00 |
** Preços Semanais – Emater/RS – Referência de Qualidade em Extensão Rural
PERDA TOTAL NO MUNICÍPIO: R$ 335. 396. 954,23
Para entender melhor os efeitos da estiagem na prática, conversamos com o produtor rural, Gustavo Heller, de Palmeira das Missões. Ele compartilhou as dificuldades que enfrenta neste período. “Os efeitos da estiagem no campo estão sendo muito variados. Em algumas regiões, as perdas chegam a 20 a 30%, mas em outras, já ultraam os 60%. O pior cenário está nas sojas que ainda não foram colhidas e que sofreram os efeitos do veranico de fevereiro/março, o pior da história”, diz.
Heller explicou ainda como as variáveis de cultivo influenciam os danos. “Nas nossas áreas tivemos talhões com perdas de 40%, como também tivemos talhões com perdas de no máximo 10% até o presente momento. O que indica a variabilidade dos efeitos da estiagem. Tudo isso pode ser atenuado ou potencializado de acordo com as estratégias de escalonamento de semeadura e escolha de cultivares por parte do produtor. O que se sabe é que os maiores potenciais produtivos estão sendo alcançados em sojas colhidos entre 12 a 24/03 na maioria das regiões da grande palmeira”, comenta.
O produtor também se mostrou preocupado com o futuro próximo “Além desse período todas as cultivares de soja que estiverem no campo sentirão os efeitos da estiagem prolongada, que está acarretando encurtamento drástico do ciclo, morte de plantas, redução do enchimento de grãos e diminuição do peso de grãos das lavouras que estiverem em ponto de colheita. Esse prejuízo ainda não pode ser devidamente estimado, mas se pressupõe que será bem impactante. E vale a pena lembrar que seguimos sem previsões consideráveis de chuva, o que já impacta nas culturas de safrinha em Sequeiro (soja e feijão), além de impedirem a semeadura de coberturas de inverno, haja vista que não há mínima condição de germinação de grãos semeados nessa situação.
Texto: Thaane Otero